10.8.09

Gosto não se discute...se treina!

Adoradores do mundo pop é que me desculpem, mas um clássico é fundamental. Nada de falar de tendências, ou dos mais novos vídeos do YouTube [dos quais não faço ideia de que estejam ou não bombando]. Vou falar de um homem, um homem que poderá mudar a sua vida, um homem que, certamente, mudou a minha: Guido Anselmi.


Guido era um diretor de cinema que fez um tremendo sucesso com seu primeiro filme. Por isso, quando começa a filmar o segundo, as pessoas simplesmente caíram em cima do moço para que ele tivesse novas ideias, para que lhes desse empregos, para que fizesse mais outra obra prima. Ele era um mulherengo de marca maior, manteve uma amante a qual desprezava, uma esposa que tratava com alguma indiferença e uma musa que ora reverenciava, ora não dava lá muito atenção.

Ele, logicamente, é fruto da mente e da vida de Federico Fellini, o maestro do Cinema Italiano(o meu diretor mais preferido de todos os tempos =DD ). Fellini sofreu uma imensa pressão logo após o final de "Doce Vida", em 1960. Todos queriam ter, ver e sentir um pouco mais da genialidade do italiano de perto, todos faziam pressão para que fizesse um outro filme genial.

O resultado de toda essa pressão é o filme metalinguístico e ensimesmado "8 e 1/2", de 1963. Guido, interpretado brilhantemente por Marcelo Mastroianni, nos mostra um pouco da displicência e da pressão que sofre um artista. Fellini, por sua vez, nos mostra o que o diferencia do resto, da ralé do cinema mundial.

Todos sofremos por crises de carreira, de ideias, de personalidade. Uma atrás da outra, algumas se escalonam. No mundo da música, então, diveeeersas crises passam pela cabeça dos pobres rockeiros. Bandas que não conseguem manter o ritmo dos álbuns, bandas que parecem piorar. Os Strokes, por exemplo, foram chamados de "os salvadores do rock and roll" quando lançaram o primeiro álbum "Is this It" em 2001. "Last Night" foi tocada à exaustão, outras músicas desse cd também. Sofreram uma imensa pressão, tanto que, em 2003, lançaram o morno "Room on Fire". É, deixaram de ser os queridinhos da imprensa.


"Foi aquela maldita pressão", falam os fãs, "A mídia não deveria ter feito tanto alarde" ou "Foi muita expectativa". É, minha gente, quanto maior o salto, maior a queda. Mas, é aí que Fellini, aquele diretor italiano dos anos 60, e até mesmo, Guido, se diferenciaram. Quando pressionado, os diretores [o de verdade e o de mentira] resolveram olhar para si próprios para descobrir onde estava a verdadeira expressão, em que lugar se escondia aquela criatividade que antes brotava tão facilmente?

Fellini não se dobrou ao que era dito sobre ele. Pode ter sofrido uma pressão terrível, mas se saiu com seu melhor filme - na minha opinião. Seu filme mais verdadeiro. Aquele em que se expõe mais.

Existem pessoas desesperadas para idolatrar, e outras igualmente desesperadas para serem idolatradas. As ideias se casam, é quase perfeito. A diferença reside em uma pergunta que sempre me faço: quais deles valem a pena? Quais artistas são verdadeiros, e quais são uma brisa? Não chego a dizer que são falsos, pois mesmo bandas de um hit só fizeram uma música, UMA música, UMA obra.

É nessa hora que se diferencia gênios. Fellini se colocou nas telas, Guido fez a mesma coisa [para quem já viu o filme, por favor, falem sobre a íncrivel cena de todos no cinema olhando os testes de atrizes, e a mulher de Guido se olhando interpretada por outra, aquilo é pura maestria!], quais músicos tiveram a mesma coragem? A ousadia de falar o que pensavam, de se colocar no palco e gritar o que queriam?

Sei que as respostas dessas questões vão esbarrar em termos empresariais. Daria para discutir sobre o público, e até mesmo, sobre a Rolling Stone e todo o circo que a mídia faz em cima de pessoas que mostram um pouco de talento. O meu ponto aqui é que idolatrias não vem de graça.

Cacilda Becker costumava falar "Não me peçam de graça a única coisa que tenho para vender", quando lhe pediam para que fizesse peças de graça. Pois então, vocês leitores, nós ouvintes, não podemos vender de graça, vender fácil o nosso único poder sobre a arte: o gosto!!

Refinem-se, observem, analisem, critiquem, comparem, não se deixem enganar. Talentos são raros. Mas genialidades, são mais raras ainda.



(@delira)

2 Responses:

Billie Kid said...

Lindíssimo post! Concordo que à arte é preciso agregar valor, e valor comercial, pois cultura e conhecimento se tornam valores comerciais. E também acredito que gênios passam incólumes por "pressão da mídia" etc. Também tenho a mesma opinião sobre Fellini rs

MAS, ainda acho que gosto não se discute... rs
Acho complicado pensar em treinar uma forma de ver o mundo, sem usar mecanismos de poder... Mas, acho que isso é foucaltiano demais para esse blog! rs rs rs

Bruna Buzzo said...

Gostei do texto, Cá, embora ache Fellini um tanto quanto sem noção (ou além do meu alcance) e ainda não tenha vista 8 e 1/2. Boa frase: "Quais artistas são verdadeiros, e quais são uma brisa?"