9.5.09

Dadá

Numa das minhas aulas de História da Arte, o professor falava sobre o Movimento Dadá. Para quem não conhece, foi aquele preconizado por Marcel Duchamp, no começo do século XX, quando este queria acabar com a visão sublime e idealizada de arte, e colocou um urinol como posto de "obra de arte".

O que que ele quis dizer com isso? Bem, Duchamp e outros artistas dadaístas queriam criar a "arte-não-arte", então, se vc chegasse pra esse francês, e chamasse o Urinol de "grande obra de arte", ele iria, no mínimo, cuspir na sua cara. Os "ready-mades" [como o próprio Urinol] não deveriam ser expostos em galerias e museus, muito menos, deveriam ser comprados em leilões. Saca? O pensamento dos dadás era que tudo era arte, para que, dessa forma, nada o fosse.


Por que não deu certo? Bem, o estilo foi absorvido pelo mercado das artes.E é aí que eu quero entrar, quem decide o que é bom e o que não é? Quem decide? Na aula, fiquei atônica ao descobrir que existiam pessoas, mesmo, que decidiam. Os marchands, os donos de galeria, os críticos de arte (óis nóis aí, gnt)... E o público, na verdade, apenas observa e compra, não tem uma opinião verdadeiramente própria. Até porque, a ideia de arte que o público tem, é aquela que foi dissipada por este tal "mercado das artes". Os chamados cânones.

Isso soa familiar com o mundo da música? Para mim, pelo menos, soa familiar até demais. Quem decide que banda é boa? Que música é ruim? Que moda é brega?

Fiz um post mais abaixo com as minhas "vergonhas musicais", só depois fui muito pensar sobre isso. Quem disse que teriam de me envergonhar? São musicas que, para mim, significam algo. Que, para mim, são boas. Não devo me envergonhar por elas, muito menos colocá-las de maneira inferior às outras músicas.

Lógico que para mim uma música pode ser melhor que a outra, sem que ela seja, necessariamente, feita com uma técnica mais apurada. O contrário pode acontecer também.

Mas aí que está a beleza das artes - e falo isso de maneira geral, porque vale para todas elas - ter o poder de significar algo independente da forma como é feita. Ter o poder de tocar, de transmitir uma ideia [ou várias] no momento que é olhada/escutada/observada. O poder sublime de inspirar!


E, de verdade, nenhum crítico de arte tem a ver com isso.

Talvez seja isso que quero dizer com este post tão grande e circular. Ninguém pode te dizer, leitor do Amplifika, o que é bom, ruim, brega ou cool. Nem a Rolling Stone, nem a MTV, nem seus amigos, nem a gente. Se você quiser escutá-los (ou nos escutar), tenha sempre em mente aquilo que gosta de verdade, e as suas opiniões.


Cânones, rótulos, ideais, opiniões. Crie os seus, para que eles façam sentido.

É exatamente isso que os dadás queriam, mas falharam miseravelmente na tentativa. Tudo pode ser arte, basta o olhar de cada um.




PS:Ilustram este Post:


(1) "A Fonte"(1917), de Marcel Duchamp



(2) "O Chamado de Matheus"(1599-1600), de Michelangelo Caravaggio



(3) "No Moulin Rouge" (1892-1895), de Henri Toulouse-Lautrec



(4) "Quadrado preto" (1915), de Kasimir Malevich



Os últimos 3 quadros me inspiram, e muito. Todos no roll dos meus preferidos. Como podem ver, o sublime pode ser diferente!





1 Responses (Leave a Comment):

Bru said...

subindo o nível da discussão, gata!
Adorei!